As lágrimas que escorreram momentos atrás e não foram limpas, agora ficam como sujeira em seu rosto.
Em uma tentativa de se recompor, finge que nada aconteceu.
Mas o momento não é pra isso. Momento sujo e impróprio, que nenhuma pessoa mereça saber.
Tenta levantar e ir ao banheiro para limpar a sujeira, mas só consegue rastejar, e ainda com aquela maldita música em sua cabeça.
Acordes vazios que, misturados com o silêncio do fim de mais uma noite, trazem lembranças de um passado próximo, mas que já virou história.
Começa lembrar de todas as pessoas que fez questão de matar, em seus pensamentos.
Seria ele um assasino? Um ladrão? Ou somente alguém que destruiu a vida de vários? Não sei.
Se esforça para lembrar de uma época que era feliz. Não, isso não. Lembra sim. E hoje ele é feliz.
Recorda-se de todos os momentos bons de sua vida, pois estão guardados em seu cérebro que não deixa passar nada, desde aquela complicada fórmula de física até um simples número de telefone.
Ao abrir a janela, vê os carros frearem bruscamente. Sim, os carros, pois os motoristas não estão em seu campo de visão.
O guarda da construção em frente à sua janela, do outro lado da rua, deve pensar que ele é louco, pois o seu olhar perdido é revoltante, doloroso. Mas já são seis horas da manhã.
Tirou a essa expressão de choro da cara e levantou-se, pois lembrou-se que ama e é amado.Agradeceu a deus, que ele faz questão de escrever em letra minúscula, por tudo isso.
Espera o fim de semana. Só isso que ele espera.
Mas agora não é a hora da lamentação.
É hora de comer um pão, ler o jornal, traçar metas, perder o medo e, simplesmente, ser feliz.
O que o dia tem de prazeroso pra ele?
Cada momento que ainda vai acontecer.